A calabresa está com os dias contados. É a próxima vítima na cruzada puritana que assola o Globo. Quando a última bituca for apagada no fundo do derradeiro copo de chope, pode anotar: eles virão atrás da lingüiça.A caçada, na verdade, já começou. Ontem à noite, num bar, uma garota em minha mesa resolveu desafiar o espírito do tempo e pedir ao garçom, sob olhares atônitos dos outros comensais, um sanduíche de calabresa. O resto da turma a olhou, incrédulo. Diante de suflês de abobrinha, saladas verdes e outros corolários anódinos do auto-controle, pareciam dizer, cheios de orgulho e inveja: você não sabe que não se pede mais esse tipo de coisa?!Por enquanto, a repressão é apenas cultural, mas é assim que começa. Em breve os carnívoros começarão a ser hostilizados em restaurantes. Depois, quem sabe, serão obrigados a usar estrelas vermelhas costuradas à roupa. Daí para os cercarem em guetos e você-sabe-bem-como-essa-história-termina é apenas um passo.A moda agora é das comidas funcionais. Suco de berinjela, salada de alfafa, meia uva com três grãos de gergelim... Tudo pelo bom funcionamento do sistema digestivo, como se fôssemos meras máquinas a serem reguladas. Daqui a pouco o garçom vai perguntar, enquanto toma nosso pedido: “quer que dê uma olhada no óleo e na água?”.Podem dizer que é para o nosso próprio bem. Que a gordura mata e o agrião salva. Amém. Acredito, no entanto, que a opção preferencial pelas fibras nada tem a ver com a saúde do corpo mas, sim, com uma doença da alma: o sabor está ficando démodé. Há uma espécie de ascetismo religioso nessa austeridade dietética. Um júbilo penitente pelo auto-controle. Segundo o novo moralismo alimentar, os gordos são preguiçosos, os carnívoros são lascivos e quem pede uma calabresa, de noite, na frente dos outros, só pode estar completamente fora de sintonia com a própria época.A questão é séria e requer uma atitude. Glutões de todo o mundo, discípulos de Baco, cultores do bom, do belo e do supérfluo, uni-vos: o prazer subiu no telhado. Ponham as carnes na grelha, aumentem o som, abram um vinho, reajam! Antes que seja tarde e o mundo se transforme numa barra de cereal. Light.
ATUALIZANDO:
Pra não dizerem que é exagero meu, vejam só!!!!
Fã de fast food, a britânica Natalie Jackson recebeu uma multa de cerca de R$ 510 por passar muito tempo dentro de um desses restaurantes em Huddersfield (West Yorks, Inglaterra). Acompanhada de um amigo, ela ficou cerca de uma hora e meia dentro do restaurante, sendo que o tempo máximo para deixar o carro no estacionamento era de 75 minutos. Natalie, uma estudante de enfermagem de 24 anos, só descobriu que tinha tomado a multa alguns dias depois. “É ridículo. Eu gastava muito dinheiro lá e nunca mais vou voltar”, afirmou a mulher, que comia no local três vezes por semana. Segundo o jornal “The Sun”, ela reclamou com os funcionários sobre a multa, e eles disseram que vão tentar reverter a situação. Procurado pelo “The Sun”, um porta-voz da rede fast food especializada em frango afirmou que o estacionamento do restaurante é terceirizado. “A limitação de tempo foi adotada com o objetivo de prevenir que as pessoas usassem o espaço para estacionar seus carros, mesmo sem consumir no restaurante”, disse. “O limite de 75 minutos foi estabelecido porque geralmente nossos clientes comem em 30 minutos.”
Fala sério!
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