segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Então era verdade?

(Sim, eu sei que esse post tá fora do lugar, que não tem a ver com a Revista Eletrônica, mas nem tudo pode ser explicado, né?)


"Fotogramas de Agosto"

Fonte: http://www.tanto.com.br/Luizedmundoalves-blog0605.htm

...Dia 30 de agosto estarei lançando meu quinto livro, Fotogramas de Agosto, pela Anome livros. Reúne poemas escritos nos últimos três anos e em parte reflete as grandes mudanças que se processaram em minha vida com a morte repentina de Angela, com quem fui casado por 18 anos e que habitualmente lia tudo que eu escrevia em primeira mão, dando sua opinião isenta e rica, sempre uma forte referência na minha carreira de poeta. Uma vez li um poema de Maria Rita Kell, nem sei onde, que dizia mais ou menos assim: sou uma pessoa de drogas leves, mas ligo o amor à imagem de uma droga pesada, porque também ele conduz a uma perda de referências e a volta (ou a retomada) é sempre muito dolorosa. Foi mais ou menos assim que me senti. Num primeiro momento é o sofrimento brutal, a realidade se embaça pela melancolia e pela falta de sentido, criando uma supra-realidade. Luto, lágrimas, vazio. Sou tenso e intenso e igualmente emotivo. Somatizei imensamente minhas emoções e em menos de dois meses adquiri uma infecção na vávula mitral, chamada Endocardite. Senti febre diariamente por quase dois meses, perdi peso, passei pela terrível angústia de me sentir corroído por uma doença que médicos não conseguiam diagnosticar. Fui a vários médicos, fiz dezenas de exames, até chegar ao Dr. Cláudio Albuquerque, que em menos de meia hora levantou a possiblidade da tal da Endocardite, confirmada mais tarde por um exame cabeludo chamado Ecocardiograma Trans-esofágico.- É grave doutor? perguntei temeroso.- É. É. Muito grave, gravíssimo. Mata. Mata, mas aqui você não morrerá disso. Vamos tratá-lo. Antibióticos na veia de 4 em 4 horas, já!- Por quantos dias, doutor?...- Por semanas, semanas. Foi outro susto. O chão sumiu. Fiquei ali, pernas bambas,paralisado. Naquele momento eu devia ficar triste mas uma súbita motivação se apossou mim, fui tomado por institiva vontade de viver. E apossei-me definitivamente do ditado "a vida segue" e do verso "não há dor que não se supere". Fiquei 14 dias internado no Semper, onde já no primeiro dia a enfermeira me perguntou se eu era escritor.- E você é mãe de santo, ou cigana? - Deus pai! sou cristã, essa sua cara é que é de escritor, isso é e logo vi.Foram 14 dias no hospital tomando antibióticos diluídos em soro. Recebi visitas atenciosas, que me levavam bolo de banana e chocolate, e visitas irreverentes que me faziam rir contando piadas de viúvos. E pra confirmar minha cara de escritor distribuí meus livros pras enfermeiras e pros médicos. Endocardite, segundo um amigo gozador, doença muito apropriada para um poeta: " só mesmo um poeta intenso pra ter uma inflamação no coração..."Passei mais 32 dias em casa no moderno sistema Home Care, com um catéter permanentemente preso ao braço e aos cuidados de minha mãe Mera e de enfermeiras que se revezavam em turnos de 12 horas.Como não havia restrições alimentares logo comecei a ganhar peso, e a disputar com as enfermeiras quem comia mais os doces com sotaque baiano (cocadas brancas e escuras, doce de mamão e torta de frutas com sorvete) que minha mãe nos preparava. Me curei, recuperei o gosto pela vida e pela poesia, pude escrever Fotogramas de Agosto e outros poemas e agora minha vida segue muito diferente de antes, com a ferida fechada e a cicatriz exposta. ...

Nenhum comentário: